Resumos das mesas-redondas



Confiram os resumos das mesas-redondas:

 

Mesa: Análises Linguísticas e Banco de Dados de Fala

O banco de dados GEFONO – desenhando fronteiras linguísticas
Prof. Dr. José Magalhães (UFU)

Resumo: Com objetivo inicial de constituir um banco de dados de fala espontânea representativo do Triângulo Mineiro, área do Estado de Minas Gerais situada entre São Paulo e Goiás, o GEFONO já mapeou, por meio de inquéritos na linha laboviana, as principais cidades da região, a saber: Uberlândia ao centro; Araguari, rumo à fronteira com Goiás; Uberaba ao Sul, rumo à fronteira com o estado de São Paulo; Ituiutaba, no chamado Pontal do Triângulo a leste, Monte Carmelo e Coromandel a Oeste, já em direção ao interior do Estado de Minas Gerais. Inspirado no Projeto VARSUL (Variação Linguística na Região Sul do Brasil), o GEFONO tem se tornado suporte para a formação de novos pesquisadores que, além de colocarem o Triângulo Mineiro no mapa da descrição linguística do Brasil, está em vias de desenhar, entre Minas Gerais e o Noroeste paulista, uma fronteira linguística identificada por fenômenos fonológicos que têm como alvo e gatilho as vogais médias. Nesta apresentação, além de expormos detalhes acerca do GEFONO, pretendemos também destacar o subsistema vocálico pretônico que, por meio dos dados obtidos junto a informantes das cidades supracitadas, tem mostrado uma nítida tendência ao abaixamento da vogal média alta em contexto de vogal média baixa na sílaba tônica, atestando, neste contexto, a harmonia do traço [ATR]. Pretendemos, com isso, reforçar a hipótese de que o Rio Grande, fronteira geográfica que separa o Noroeste Paulista do Triângulo Mineiro, coincide com outro tipo de fronteira, qual seja, uma fronteira demarcada por elementos de natureza linguística revelados pelas vogais médias em sílaba pretônica.

 

Projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior Paulista) e Banco de dados Iboruna: 10 anos de contribuição com a descrição do português brasileiro
Prof. Dr. Sebastião Carlos Leite Gonçalves (UNESP-São José do Rio Preto)

Resumo: Completada sua primeira década de existência, o Projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior Paulista) e seu banco de dados Iboruna (= rio preto, em Tupi Guarani) já reúnem contribuições relevantes com a descrição e análise linguísticas do português brasileiro. O banco de dados de médio porte, com pouco mais de 1,5 milhão de palavras, compõe-se de dois tipos de amostras de fala, que registram a variedade do português brasileiro falado no interior paulista: (i) uma amostra do censo linguístico de parte da região noroeste do Estado de São Paulo, que, nucleada em torno de São José do Rio Preto, compõe-se de 152 entrevistas sociolinguisticamente controladas (LABOV, 1972); (ii) uma amostra de interação dialógica, constituída de 11 diálogos, envolvendo de dois até cinco informantes, gravados secretamente, em contextos livres de interação e sem qualquer controle de variáveis sociais (RONCARATI, 1996). O Projeto ALIP conta com mais de 300 usuários, do Brasil e do exterior, cadastrados em seu banco de dados (disponível em <http://www.iboruna.ibilce.unesp.br>), os quais têm acesso livre a toda documentação linguística das duas amostras: manual de transcrição, transcrições ortográficas com seus respectivos arquivos sonoros, fichas sociais de informantes e diários de campo. Nesta apresentação, trato inicialmente de explicitar a importância da utilização de banco de dados na pesquisa linguística (o que é e para que serve), apresentando três exemplos de banco de dados de variedades falada e escrita do português paulista (GONÇALVES, 2007; MENDES, 2013; TENANI et al., 2014), para, na sequência, focalizar aspectos da constituição do banco de dados Iboruna e sua contribuição com trabalhos de descrição sociolinguística e funcionalista do português paulista, envolvendo diferentes níveis de análise, do fonético-fonológico ao discursivo-pragmático. Espero mostrar as vantagens de se dispor de um banco de dados sistematicamente organizado para fazer avançar a pesquisa linguística socialmente assentada em contextos reais de uso da língua.

 

Mesa: Discursos em confronto na e sobre a avaliação internacional de leitura do PISA: acatar ou duvidar?

Profa. Dra. Juliana Assis (PUC-MG)
Prof. Dr. Bertrand Daunay (Université de Lille)

Resumo: O PISA se constrói e é construído por meio das instâncias midiáticas, políticas e também científicas, como uma referência internacional para avaliação do letramento dos estudantes de 15 anos (faixa prevista para o término do ensino fundamental II no Brasil). A Mesa objetiva discutir o PISA analisando especificamente o tratamento da literatura no programa, assunto importante quando se trata de avaliação internacional da leitura em uma lógica intercultural. Duas abordagens complementares, que se deterão sobre um mesmo exemplo particular, serão propostas: de um lado, uma análise crítica do discurso do PISA, tanto nos testes para os alunos como nos resultados e comentários sobre a avaliação; de outro lado, um estudo sobre o ponto de vista de professores da educação básica brasileiros e franceses demandados, por força da participação em uma pesquisa franco-brasileira sobre o PISA, a interagir com essa avaliação e com seus parâmetros de correção. Propõe-se tanto colocar à mostra fragilidades de uma avaliação que, pretendendo ser universal, ignora as especificidades locais, quanto possibilitar que outras vozes (não previstas, mas certamente legítimas) venham a contribuir para essa discussão.

 

Mesa: Linguística do Texto, (inter)faces e desafios futuros

La lingüística textual, el análisis del discurso, y el problema de la interdisciplinariedad
Profa. Dra. Adriana Bolívar (Universidad Central de Venezuela)

Resumo: En esta mesa redonda sobre la lingüística textual y sus interfaces, plantearé el problema de la interdisciplinariedad en los estudios del discurso y la necesidad de explicar la relación entre el análisis lingüístico de los textos y el análisis discursivo. Es sabido que la lingüística textual y el análisis del discurso han estado emparentados desde sus inicios en los años 60 cuando se empezó a estudiar el lenguaje más allá de la oración. Los campos que unen a la lingüística textual y al análisis del discurso son muchos, particularmente los que tienen que ver con la estructura de la información, la cohesión, la coherencia, el “grounding”, los tipos de textos y géneros discursivos y otras áreas de desarrollo más reciente como la lingüística de corpus y el análisis crítico del discurso (véanse; Östman y Virtanen 2011). No obstante, puesto que “la lingüística no puede ser la única base para una ciencia de los textos y del discurso” (de Beaugrande 2011, p.295), cuando se trabaja en equipos multidisciplinarios en los que participan lingüistas y colegas de otras disciplinas se presentan problemas en relación con la definición de términos clave tales como “texto”. Por lo tanto, concentraré la discusión sobre dos cosas, por un lado, cómo se practica la interdisciplinariedad en análisis del discurso y, por otro, cómo podemos encontrar un lenguaje común para investigar en grupos interdisciplinarios en las humanidades y ciencias sociales. Daré algunos ejemplos de mi propia experiencia en la investigación del discurso político (Bolívar 2018).


Alguns diálogos entre a Semiótica e a Linguística textual
Profa. Dra. Diana Luz Pessoa de Barros (USP e Universidade Presbiteriana Mackenzie)

Resumo: O objetivo desta apresentação é examinar algumas das relações que podem ser estabelecidas entre a Linguística textual e a Semiótica, e que têm interesse tanto para os estudos do texto, quanto para os do discurso. Com esse fim, trataremos, principalmente, das questões semióticas de tematização, figurativização, isotopia e intertextualidade, tendo como contraponto, ou melhor, como pano de fundo, as noções de coesão, coerência e referenciação da Linguística textual. Retomaremos para esse diálogo alguns de nossos trabalhos anteriores sobre o papel e os rumos dos estudos semióticos e, também, nosso texto de homenagem a Ingedore Koch, em que procuramos aproximar esses dois campos de estudo do texto e do discurso.

 


Mesa: Ensino e aprendizagem de língua estrangeira na cultura digital

Dadificaçao, significação e aprendizagem: por uma apropriação crítica da metáfora computacional do universo.
Prof. Dr. Marcelo Buzato (UNICAMP)

Resumo: Dadificação e big data são facetas da corrente releitura do mundo a partir do(a) modelo-metáfora computacional do universo, n(a) qual nossa experiência vital corporificada e semiotizada é modelizada por correlações estatísticas em lugar de teorias de base causal tais como as da psicologia, sociologia, linguística e pedagogia. Dadificar significa transformar em dados qualquer ação, condição ou comportamento que possa ser capturado por sensores ou indexado em palavras ou cliques. Big Data remete ao campo da ciência de dados, surgido na interseção entre as ciências da computação e a análise de negócios, cujas técnicas e tecnologias permitem "extrair conhecimento" desse volume magnífico de dados gerados e transmitidos com grande velocidade e em grande variedade. No campo educacional, temos agora a técnica chamada de Learning Analytics (LA), definida como conversão de "dados educacionais" em informações que orientem ações e decisões por parte de professores, aprendizes e administradores, visando otimizar a aprendizagem. Apresento algumas reflexões sobre as repercussões discursivas, epistemológicas e políticas da dadificação relacionando-as com pressupostos de LA e confrontando o(a) modelo-metáfora computacional com concepções de linguagem e aprendizagem caras às ciências humanas. Com isso, objetivo defender uma apropriação crítica e consciente da técnica de LA no ensino de línguas no Brasil.


Língua como instrumento, língua para o poder: reflexões sobre a pesquisa e o uso de tecnologias digitais no desenvolvimento linguístico
Prof. Dr. Rafael Vetromille-Castro (UFPel)

Resumo: Em um contexto em que as tecnologias digitais assumem grande (e ainda crescente) importância no dia a dia dos indivíduos, parece natural e necessário o interesse de pesquisadores da Linguística Aplicada por aquilo que emerge do contato dessas tecnologias com a linguagem. As práticas de linguagem com tecnologias digitais desvelam uma série de possibilidades de interação entre indivíduos de quaisquer partes do planeta em tempo real e imediato e esse desvelamento per se já se configura como motivação para pesquisa. A quantidade de materiais digitais é enorme, abarcando desde vídeos e áudios disponíveis na rede mundial de computadores sem fins originalmente educacionais até repositórios com centenas de milhares de objetos de aprendizagem e recursos educacionais abertos, passando por uma variedade de software, aplicativos e cursos online disponíveis – gratuitos ou não – disponíveis para aprendizagem nas mais diversas áreas. É notável o volume de pesquisas sobre possibilidades tecnológicas digitais para as práticas de linguagem e para o ensino/aprendizagem de línguas com tecnologias digitais das mais variadas – desde o uso de desktops, passando por tablets, até os smartphones. Entendo, no entanto, que muitas das pesquisas e práticas pedagógicas investigadas não apenas se concentram, mas se limitam, ao caráter instrumental da tecnologia, deixando como periféricas questões cruciais concernentes à educação, formação cidadã e empoderamento. Ainda, quando é estabelecido o contato entre o uso das tecnologias digitais e o ensino/aprendizagem de línguas, nota-se muitas vezes a exacerbação dos fins instrumentais do idioma (mesmo quando travestido pelo discurso da aprendizagem para comunicação) em detrimento de questões que permitam ao indivíduo o seu engajamento protagonista no jogo de poder simbólico estabelecido pela linguagem e propiciem condições de justiça social, as quais subjazem originalmente conceitos consagrados na área de aprendizagem de línguas, como o de competência comunicativa. Com esse cenário, pretendo debater algumas das questões que considero primordiais para a educação linguística e que deveriam pautar práticas docentes e/ou investigativas com (ou sem) tecnologia digital. Em outras palavras, me interessa pensar sobre o quanto a relação “tecnologia digital, aprendizagem de línguas” pode propiciar ao indivíduo condições de liberdade, agência e self, a partir da perspectiva do bildung humboldtiano. Busco refletir sobre os conceitos de competência comunicativa e simbólica e quais as suas implicações para o ensino e a pesquisa na intersecção com recursos tecnológicos. Ainda, pretendo argumentar sobre o potencial que o tratamento das questões de linguagem e tecnológicas tem para propiciar affordances de empoderamento para os indivíduos, o que se revela como motivação relevante para investigação na área. Para tais objetivos, trarei alguns exemplos de pesquisa sobre o uso de recursos tecnológicos digitais para aprendizagem de línguas, discutirei alguns aspectos da gamificação e dos objetos de aprendizagem e ilustrarei o uso de conteúdos digitais na sala de aula de línguas voltado para competência simbólica.

 

Mesa: Variação e mudança linguística


50 anos depois de Uriel, William e Marvin...
Prof. Dr. Manoel Mourivaldo Santiago Almeida (USP)
Prof. Dr. Emílio Gozze Pagotto (UNICAMP)

Resumo: Retomam-se, a partir de exemplos, questões sobre métodos de coleta de dados para estudos que tratam da variabilidade e modificação da língua portuguesa. Consideram-se, portanto, hipóteses da variação e mudança linguística, na medida em que sugere o uso do presente para explicar o passado ou compreender os movimentos do passado observando o presente contínuo. Sendo assim – sugerindo estudos numa perspectiva diacrônica ou que confrontam diferentes sincronias –, move-se pela Linguística Histórica, tendo como base teórico-metodológica a Sociolinguística (Weinreich; Labov; Herzog, 1968; Labov, 1972; Tarallo, 1994) e a Geografia Linguística (dentre outros: Cardoso et al., 2014; Radtke e Thun, 1996).

 

Léxico, manutenção, variação e mudança linguística: medidas de um paradoxo
Prof. Dr. Américo Venâncio Lopes Machado Filho 
(UFBA)

 

Resumo: Pretende-se apresentar reflexões sobre o léxico – enquanto unidade da linguagem que mais proximamente se relaciona ao mundo externo –, no que concerne à (im)possibilidade de observação quantitativo-qualitativa de processos de variação e de mudança, buscando discutir o caráter randômico e paradoxal que assume no processo de constituição identitária de uma língua, seja pela manutenção secular de distantes fontes etimológicas que se solidificam em seu esteio histórico, seja pelo caráter inovador que revela, em função dos contatos culturais ou linguísticos a que a língua em uso se possa submeter.

 


Mesa: Abordagem construcional do português: morfologia e sintaxe em foco

Sintaxe do português em perspectiva construcional: interfaces, limites e desafios
Profa. Dra. Mariangela Rios de Oliveira (UFF)

Resumo: Com base em Traugott (2015), Traugott e Trousdale (2013), Bybee (2010; 2015), entre outros, voltamo-nos para uma recente linha de estudos funcionalistas, em diálogo estreito com o tratamento construcional da gramática (Goldberg 1995; 2006; Croft, 2001), no que temos denominado no Brasil de Linguística Funcional Centrada no Uso (Oliveira e Cezario, 2017; Oliveira e Rosário, 2016; Furtado da Cunha e Cezario, 2013). Nesse diálogo teórico-metodológico, surgem contribuições relevantes para a análise e a descrição de categorias sintáticas do português, e, por outro lado, apresentam-se desafios e limites. Em termos de interfaces promissoras, temos o destaque para o eixo da estrutura, no redimensionamento das relações analógicas (Fischer, 2009) e metonímicas (Traugott e Dasher, 2005), bem como a ênfase da estreita vinculação de propriedades formais e funcionais da chamada construção (Goldberg, 1995; 2006), tomada como unidade gramatical, enquanto a língua é entendida como uma rede de construções, em relações verticais (Traugott e Trousdale, 2013) e horizontais (Velve, 2014). De outra parte, como foco diferencial dos estudos funcionalistas face aos cognitivistas: a) mantém-se a atenção às instâncias de uso (e não aos esquemas virtuais, às construções), na investigação de rotas de mudança linguística; b) pesquisa-se acerca dos micropassos, ou neoanálises, que levaram a mudanças construcionais e construcionalização gramatical ou ainda lexical (Traugott e Trousdale, 2013); c) privilegiam-se as relações contextuais (Diewald, 2002; 2006; Diewald e Smirnova, 2012), na captura de propriedades formas e funcionais mais amplas caracterizadoras da mudança linguística e consequente paradigmatização. Para esta apresentação, elegemos como objeto de pesquisa algumas construções do português integradas por afixóides locativos, como a intensificadora de grau (pra lá de linda), a conectora textual (aí está) e a marcadora discursiva (vamos lá).

 

Uma abordagem construcional para fenômenos morfológicos: a reduplicação
Prof. Dr. Carlos Alexandre Gonçalves (UFRJ)

Resumo: Nesta apresentação, utilizamos a morfologia construcional (MC), originalmente proposto por Booij (2005, 2007, 2010), para descrever processos de formação de palavras do português. Em linhas gerais, esse modelo aplica a gramática das construções (GOLDBERG, 1995) ao componente morfológico, analisando as formações lexicais por meio de esquemas e subesquemas que representam o pareamento entre o polo formal e o polo semântico de palavras morfologicamente complexas. Exemplificamos o modelo com a reduplicação verbal (composição ViVi – com dois verbos idênticos). Assim, procuramos explicar, formal e semanticamente, construções como “bate-bate” (“bater repetidamente”, “carrinho do parque de diversões”) e “agarra-agarra” (“agarrar repetidas vezes”), mostrando as motivações morfológicas e as extensões de significado desse tipo de formação. Propomos que, na reduplicação de base verbal, o esquema geral selecionado para o processo é o da composição. Esse esquema, por sua vez, é mesclado ao esquema de repetição na língua e a estrutura emergente resultante é a construção de reduplicação com uma forma verbal não marcada na língua, ou seja, destituída das marcas de modo, tempo, aspecto, número e pessoa (3ª. p do pres. do ind.). Mostramos, por fim, que o sentido aspectual de iteratividade é herdado da construção de repetição e se associa à própria construção de reduplicação. Outra propriedade dessa construção é a intransitividade: os verbos são nominalizados e seus complementos argumentais, apagados. No polo semântico do processo, dois significados emergem: o mais básico é o de evento, como em “pisca-pisca” significando simplesmente “piscar repetidas vezes”. Na sequência do processo, ocorre nova extensão semântica e o significado se torna mais fixo como coisa (“pisca-pisca” como luzes de Natal ou farolete). Logo, demonstramos que a reduplicação de base verbal pode resultar em polissemia.

 

 



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